10 de Setembro de 2021, Brasília parou para escutar milhares de mulheres que gritavam alto e bem claro que a Amazônia está queimando, os peixes estão morrendo pelo aquecimento das águas já contaminadas e os políticos não estão fazendo nada. Assim, no sol escaldante de 33º graus, a II Marcha das Mulheres Indígenas seguiu pacífica pelas ruas da capital federal como um dos maiores espetáculos de arte, cultura e respeito aos direitos humanos jamais visto nas últimas décadas em manifestações históricas globais.
O empoderamento da II Marcha das Mulheres Indígenas tornou-se palco central da política brasileira em meio à crise institucional. Muitas organizações nacionais e internacionais, departamentos e entidades históricas se juntaram aos movimentos sociais e organizações que marchavam com faixas de protesto.
A partir do dia 25 de Agosto de 2021
II Marcha das Mulheres Indígenas. 10 de Setembro de 2021. Foto: Guilherme Meneghelli
A consolidação destas redes de articulações do movimento indígena feminino, que de forma orgânica se alinha em conversas nos gramados, na caminhada lado a lado, abre espaço para o crescente debate do empoderamento destas mulheres em seus territórios junto à execução de novos projetos que incluem artesanato, moda, gestão, educação etc. Segundo dados da FUNAI, existem hoje no Brasil cerca de mil organizações indígenas, destas, apenas 9% são de mulheres.
Como um espetáculo global, as mulheres indígenas têm se organizando coletivamente para lutar pela demarcação de seus territórios e contra todo tipo de violência, e, fundamentalmente, pela manutenção dos valores e direitos de seus povos defendidos dias antes no acampamento Luta pela Vida que ocorreu entre os dias 22 e 28 de agosto. De diversas formas as mulheres estão traçando e ampliando sua participação em organizações próprias como na Aldeia Segredo do Artesão, e sua futura casa de artesanato do grupo de cantorias feminina Txana Keneya. Mesmo que distante geograficamente e com certas dificuldades e limitações de acesso à comunicação digital essas mulheres ampliam o próprio Capital Espiritual e fazem com que suas demandas também se ampliem.
O protagonismo da força da mulher indígena foi passar em alto e bom tom que nossas florestas estão sendo devastadas, as crianças estão morrendo pelas águas contaminadas. É necessário fortalecer a articulação das redes em torno do movimento indígena feminino.
De pé, cabeça erguida, sua dignidade é completa. Essa é a imagem de uma mulher indígena empoderada confrontando discriminação e violência, dizendo “chega, é o suficiente” para o trágico impacto do extrativismo industrial e outros projetos de desenvolvimento contra seus territórios ancestrais.
A Floresta TV simboliza através das mulheres indígenas a valorização da sua identidade e individualidade, mostrando sempre a relação semiótica e simbiótica com a Mãe Terra e o Capital Espiritual. Os territórios se transformam em elementos de resistência contra a desigualdade, o racismo, sexismo e a pobreza.
II Marcha das Mulheres Indígenas. 10 de Setembro de 2021. Foto: Guilherme Meneghelli
Sinal Verde
múltiplas formas
históricas de
discriminaçãoNas Américas, as mulheres indígenas frequentemente enfrentam múltiplas formas históricas de discriminação que as expõe aos direitos humanos violações em todos os aspectos de suas vidas diárias: de seus direitos civis e políticos e seu direito de acesso à justiça, aos seus aspectos sociais e direitos culturais e seu direito de viver livre de violência.
As mulheres indígenas enfrentam diversos obstáculos, incluindo desafios geográficos e econômicos para ganhar acesso a serviços de saúde e educação; a limitação de acesso a programas e serviços sociais; baixa participação nos processos políticos e até a marginalização social. A marginalização social e econômica de mulheres indígenas contribui para a manutenção estrutural de discriminação e as tornam particularmente suscetíveis a uma variedade de atos de violência contra mulheres.
Embora estejam sujeitas a discriminação e violações de seus direitos humanos, mulheres indígenas não devem ser entendidas simplesmente como vítimas. Elas desempenham um papel crucial na história da luta de seus povos em plena crise da democracia brasileira.
É preciso entender que a II Marcha das Mulheres Indígenas que aconteceu hoje (10), pela manhã, em Brasília foi histórica. Foi a demonstração da Mãe Terra, de Gaia, da Natureza, da ancestralidade, dos espíritos de todos os tempos que emanaram nos cantos e danças de milhares de mulheres indígenas pelas ruas da cidade mais poderosa do Brasil. Como sabemos e lembra minha amiga Camila Saibro, antes de haver Coroa no Brasil sempre houve o Cocar.
E assim, unidas em diversos lugares pelo mundo, acompanhamos essas manifestações de pura consciência planetária, da mudança climática, de um caminho em que possamos seguir e confiar coexistindo com a natureza de maneira pacífica. A união dos povos de que fala Mathilde Everaere é sobre a entrega de uma união universal.
Buscamos uma articulação global que desperte uma consciência e inteligência coletiva global para que o Capital Espiritual se torne soberano entre todos nós. Pensar coletivamente em novas maneiras de coexistirmos juntos nos ajuda a entender desdobramentos de novas maneiras de vida em sociedades aqui e além.
II Marcha das Mulheres Indígenas. 10 de Setembro de 2021. Foto: Guilherme Meneghelli